Um processo fraudulento, racista e machista contra Sandra
FortesPor
W. Ioffe - militante do PSTU
"Alguém
devia ter caluniado Josef K., pois sem que ele tivesse feito qualquer mal foi
detido certa manhã."
(O
processo, F. Kafka)
A fraude, a calúnia, a vilania covarde e traiçoeira, o machismo e o racismo sempre foram armas utilizadas
pelas classes ricas dominantes contra as lideranças do povo explorado que ousam levantar a voz contra os
opressores. A história nos dá vários
exemplos de perseguição política baseada em processos fraudulentos, movidos pelo Estado
contra cidadãos e trabalhadores.
Tornou-se simbólico
o Caso Dreyfus, na França
de fins do século XIX, quando um oficial do exército francês,
de origem judaica, foi condenado injustamente como espião da Alemanha. O processo fraudulento montado contra ele
levantou uma onda de antisemitismo na França e suas colônias.
Anos depois ele foi reabilitado e declarado inocente.
No processo contra os Mártires de Chicago, em 1886, oito operários foram condenados injustamente pela morte de um policial
durante uma manifestação
pela Jornada de 8 Horas. O governo e a burguesia forjaram provas e usaram o
processo contra eles para criminalizar as lutas e as organizações operárias
nos Estados Unidos. Os oito foram condenados: um suicidou-se na prisão, quatro foram enforcados e três pegaram prisão
perpétua. Poucos anos depois, o governo foi
obrigado a reconhecer que todos eram inocentes. Estes fatos deram origem ao 1° de Maio como Dia Internacional de luta do proletariado.
Durante a Revolução Russa de 1917, Lenin foi perseguido sob a falsa acusação de agente dos alemães.
Um dos aspectos mais repugnantes da degeneração estalinista da ex-União Soviética
e dos partidos comunistas da III Intenacional foi a utilização da fraude e da calúnia para combater seus adversários no interior do movimento operário e socialista. Nos Processos de Moscou foram condenados
injustamente vários dos principais dirigentes do
Partido Bolchevique que dedicaram suas vidas à revolução
proletária. Trotsky, assassinado em 1940,
segue sendo caluniado até
hoje pelos estalinistas.
Na luta dos negros e negras pela igualdade, nos Estados
Unidos, sobressaem os casos de Mumia Abu Jamal e Angela Davis, militantes do
Partido dos Panteras Negras, acusados falsamente de homicídio pela burguesia branca, machista e racista, em processos
forjados pela polícia e pela justiça. Jamal ficou 30 anos no "corredor da morte" e ainda
cumpre pena de prisão perpétua.
No Brasil, as revoltas populares que sacudiram várias regiões
no final do século XIX e início do século
XX foram afogadas em sangue pela monarquia e depois pela república. Destas lutas surgiram inúmeras lideranças
do povo pobre, negro, explorado e oprimido pelas elites burguesas. Todos e
todas foram vítimas das mais atrozes calúnias que tinham como objetivo atemorizar e enganar a população para facilitar a repressão às
revoltas. Antônio Conselheiro e os “socialistas utópicos” de Canudos eram chamados de "fanáticos". João Cândido,
o líder da Revolta da Chibata, era acusado
de ser "o negro que violentou a história do Brasil".
As lutas dos escravos pela liberdade enfrentou durante séculos a mentira e o terror espalhados pelos colonialistas, e
Zumbi dos Palmares teve sua cabeça
cortada e salgada para ser entregue ao governador de Pernambuco.
A acusação
infame e caluniosa lançada
pelo prefeito de Taboão
da Serra à professora Sandra Fortes de
"suposto aliciamento de menores" é parte desta "tradição" covarde e cruel das classes dominantes. Ao fazer esta acusação pública
em Diário Oficial do município, que foi reproduzida pela imprensa local, o prefeito do
PSDB colocou a cabeça da professora a prêmio, visando incitar o ódio e a agressão
contra ela. Fernando Fernandes se mantém fiel aos princípios e à
moral torpes de sua classe social.
As crianças dizem a verdade
O cantor Lobão,
novo ícone dos "reaças" que estão se manifestando nas ruas pela volta da ditadura militar,
num ato de apoio a Aécio Neves durante o segundo turno das
eleições, acusou os professores do estado de
"serem todos comunistas". O prefeito do PSDB colocou em prática esta sandice, acusando uma professora socialista de
"aliciar menores" contra ele.
O processo movido contra Sandra Fortes baseia-se em cartas
escritas por alunos e alunas da escola em que ela trabalha, nas quais cobram do
prefeito aumento de salários
para os professores e funcionários
e melhorias na escola. Neste ano já tiveram de conviver com vários problemas típicos das escolas públicas: goteiras e falta de lâmpadas nas salas de aula, curto curcuitos, árvores caídas,
banheiros entupidos substituídos
por banheiros químicos, cheiro de tinta devido a
reformas feitas durante as aulas, pombos no pátio durante o recreio. As cartas expressam as palavras de crianças que sofrem as agruras da vida de seus pais e mães trabalhadores: baixos salários, ônibus
lotados, postos de saúde
sucateados, escolas precárias,
violência e humilhação da parte dos ricos e poderosos. Palavras de indignação popular contra políticos que enganam o povo com falsas promessas de "dias
melhores". Cartinhas de crianças com linguagem de criança: honestas, diretas, espontâneas.
O prefeito não
gostou da sinceridade das crianças.
Prefere se deixar fotografar com elas, junto com a "primeira dama",
para usar em campanhas eleitorais, isto sim, o verdadeiro "aliciamento de
menores" que deve ser proibido e condenado.
Fernando Fernandes é o acusador e o juiz
Além
de se basear numa farsa montada para caluniar e punir Sandra Fortes, o processo
é também completamente autoritário. O Código
Disciplinar dos Servidores de Taboão é
uma lei a serviço dos políticos que controlam o poder na cidade, uma lei usada para
atemorizar e punir os funcionários
públicos municipais. Vejamos como
funciona este esquema.
O prefeito acionou seus serviçais livre nomeados, o diretor da escola e o secretário de educação,
João Medeiros, para fazer os
encaminhamentos formais da denúncia
contra a professora. O próprio
prefeito nomeou a Comissão
Disciplinar que a está
julgando. A palavra final é
também do prefeito, que aprovará ou não
o parecer da comissão.
Como se vê,
é um jogo de cartas marcadas controlado
por Fernando Fernandes, que é
ao mesmo tempo acusador e juiz de um processo fraudulento. É por isso que não depositamos nenhuma confiança no julgamento independente desta comissão e exigimos o arquivamento do processo.
A defesa de Sandra Fortes é a defesa de tod@s trabalhadores
A única
forma de se garantir justiça
para a professora Sandra Fortes é
o apoio e a mobilização das trabalhadoras e trabalhadores,
principalmente de seus colegas do funcionalismo público de Taboão.
O processo contra Sandra Fortes tem como objetivo disseminar o medo e a impotência nos trabalhadores. Fernando Fernandes quer dar um
exemplo a todos e todas que lutam por seus direitos. Hoje o carrasco quer a
cabeça de Sandra Fortes, amanhã todas as cabeças
estarão a prêmio. Precisamos segurar a mão do carrasco! Temos que lutar contra o medo e a impotência!
A defesa de Sandra Fortes é a defesa de todos nós trabalhadores. Somos tod@s fortes!
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